24.4.08

Homem Escroto - em busca de si mesmo




Capítulo primeiro: o abandono do cotidiano

Vieram dizer a ele que o mestre espiritual não estava lá. Cansado, resolve fazer o trajeto de volta. Nem sequer percebera por onde andara. Pesado, caminhava por um espaço apertado que o lembrava um corredor da morte. Pensou em correr, mas o cheiro de suor o amarrava em seu corpo. Lentamente atravessou o ambiente. A porta distante já não o assustava e ao atravessá-la, o dia raiava claro como água jogada sobre espelho. A visibilidade era tamanha que mal podia conter sua alegria em avistar o verde ao redor. Sorriu. O medo já não mais lhe dominava, era agora homem vencido. O público deliciar-se-ia ao saber que ele não conseguira. Chegava até a ouvir a gritaria da platéia insanável ao redor do ringue em que ele acabara de cair. Ainda assim, continuou a sorrir.
Lembrou-se de seu apartamento vazio, da xícara de chá de sua avó falecida, da pipa que empinara pela primeira vez. Voltou a caminhar, agora mais leve. A natureza o tomava como que num acerto de contas e ele, homem escroto, visualizava deslumbrado uma criança selvagem a correr semi-nua pela relva. Seu rosto calou-se. As pernas começaram a querer ceder, mas a vontade de cumprir ainda...


João Antônio Garcia Teles


(Texto escrito para a disciplina Teatro e Educação II, onde faço estágio. O objetivo era o de escrever a primeira página de um romance qualquer, baseado em palavras obtidas de jogos teatrais realizados no encontro anterior)

18.4.08

Vasca?








As paredes eram brancas, como brancas estavam as suas pálpebras. Ela sofria por algo que nem ao menos havia ocorrido. Pensou em se deitar, mas o cansaço não superava a curiosidade de algo que estava por vir. Buscou encontrar algo para distrair-se. Tentou ler, mas as palavras misturavam-se à seus pensamentos. Ligou a tv, mas o noticiário só apresentava tragédias urbanas e aquele não era o momento de entristecer-se. Tomou um banho, alisou seu felino, bebeu um chá e continuou a aguardar. Procurou no dicionário: ânsia. sf. Angústia. Desejo ardente; anseio. Estertor, vasca. Vasca? = grande convulsão.




Ela entende sua angústia. Ela chora e espera. Consegue puxar o cantinho de seus lábios, expressando leve sorriso. Ao mesmo tempo a campainha soa e no interfone está sua amiga a esperando do lado de fora. Os quadros recebem a luz da luminária até pouco apagada. Ela desliga sua ânsia e corre para abrir a porta.