24.4.08

Homem Escroto - em busca de si mesmo




Capítulo primeiro: o abandono do cotidiano

Vieram dizer a ele que o mestre espiritual não estava lá. Cansado, resolve fazer o trajeto de volta. Nem sequer percebera por onde andara. Pesado, caminhava por um espaço apertado que o lembrava um corredor da morte. Pensou em correr, mas o cheiro de suor o amarrava em seu corpo. Lentamente atravessou o ambiente. A porta distante já não o assustava e ao atravessá-la, o dia raiava claro como água jogada sobre espelho. A visibilidade era tamanha que mal podia conter sua alegria em avistar o verde ao redor. Sorriu. O medo já não mais lhe dominava, era agora homem vencido. O público deliciar-se-ia ao saber que ele não conseguira. Chegava até a ouvir a gritaria da platéia insanável ao redor do ringue em que ele acabara de cair. Ainda assim, continuou a sorrir.
Lembrou-se de seu apartamento vazio, da xícara de chá de sua avó falecida, da pipa que empinara pela primeira vez. Voltou a caminhar, agora mais leve. A natureza o tomava como que num acerto de contas e ele, homem escroto, visualizava deslumbrado uma criança selvagem a correr semi-nua pela relva. Seu rosto calou-se. As pernas começaram a querer ceder, mas a vontade de cumprir ainda...


João Antônio Garcia Teles


(Texto escrito para a disciplina Teatro e Educação II, onde faço estágio. O objetivo era o de escrever a primeira página de um romance qualquer, baseado em palavras obtidas de jogos teatrais realizados no encontro anterior)